Uruguay : Tabaré, o retorno

Elvire Charbonnel, correspondente à Montevideo, Uruguay Traduzido por Mayca Fernandes Santos
20 Janvier 2015


30 novembro 2014. Tabaré Ramón Vázquez Rosa tem 5,6% das vozes no segundo turno das eleições presidenciais no Uruguay. Nesse pequeno país latino-americano de 3,4 milhões de habitantes, onde o voto é obrigatório sob pena de multa, 2,6 milhões de eleitores foram chamados às urnas, cinco semanas depois do primeiro turno associado as eleições legislativas. Tabaré Vásquez, que assumirá as suas funções oficialmente no 1 de março 2015, estava concorrendo com o candidato Luis Lacalle Pou, 41 anos, filho do antigo presidente Luis Alberto Lacalle Herrera (1990-1995), e membro do Partido Nacional de centro-direita. Por duas razões, a vitoria de Tabaré é histórica: o seu score é não somente o mais alto desde seu retorno ao régime democrático (1985), mas ele consolida a coalizão de esquerda do Frente Amplio, pela elevação do poder pela terceira vez consecutiva. Após sessenta anos, nenhum partido conheceu um sucesso igual.


Crédits DR
Tabaré não é qualquer um no meio político uruguayo e não tem nada de iniciante na matéria: esse ex-presidente tinha dirigido o país de 2005 à 2010 e era um símbolo poderoso como o primeiro líder da esquerda. Ao deixar a presidência - porque a lei proíbe a sucessão de dois mandatos consecutivos - ele estava de volta à vida normal, com uma taxa de popularidade de mais de 60%.

Agora aos 74 anos, o socialista Tabaré, oncologista e maçom, nasceu em uma família de classe trabalhadora. Ele é o exemplo da ascensão social da era pré-ditatorial: primeiro garçom, em seguida carpinteiro, ele decide então estudar medicina e exerce ao mesmo tempo um trabalho administrativo. Ele formou.se em 1969, especializa-se em oncologia, e continua seus estudos na França. Ele volta médico, professor e empresário. Alguns anos mais tarde, juntamente com o seu mandato presidencial, ele combinou a sua profissão médica. Desta vez, ele anunciou que iria colocar sua carreira médica de lado para dedicar mais tempo à sua carreira como presidente.

Durante dez anos Tabaré inicialmente levou um pequeno clube de futebol (El Progreso), antes de se envolver clandestinamente no Partido Socialista, no final da ditadura (1973-1995). Este homem franco, direto e carismático, foi eleito em 1989 como o primeiro prefeito de esquerda e deixou a capital do país, Montevidéu, que abriga a metade da população com 1,4 milhões de habitantes.

Crédit Pablo Porciuncula pour l'AFP
O presidente que ele foi entre 2005 e 2010 marcou os espíritos com reformas importantes realizadas na educação, tributação e saúde. Tabaré está na origem do plano Ceibal que fornece um computador  para todos os alunos, de um plano de urgência social implementado durante a grave crise econômica (2001-2002), e as leis anti-tabaco rígidas: provavelmente influenciadas pelo seu perfil oncologista, ele conseguiu por exemplo infligir uma ação judicial contra a empresa de tabaco Philip Morris.

Tabaré, quais desafios?

O primeiro desafio que o novo eleito encontrará sera do tipo econômico. Hoje, o contexto é bem diferente do de 2005: quando o país saía da maior crise econômica jà conhecida, ele vê atualmente o final dos dez anos de prosperidade econômica. A palavra "fim" é evidentemente exagerada, pois é uma desaceleração da atividade econômica  e que a taxa de desemprego ainda está boa (6,2% em setembro 2014). Todavia, essa desaceleração que todas as regiões conhecem vai dar início à uma política rígida necessária, afim de reduzir a inflação e o déficit orçamental crescente.

O segundo grande desafio sera social. No seu discurso, Tabaré prometeu organizar "um grande encontro nacional sob os temas que são mais importantes para os uruguaios como a economia, o social, a política",  e particularmente a segurança, infra-estrutura e educação, três temas chave da campanha.

O terceiro desafio será de lidar com todos os cidadãos do país. Os uruguaios, têm uma história política muito bipartidária - Partido Blanco vs. Partido Colorado - eles se dividem em dois campos bastante precisos. O "eles contra nós" ou o "ruim contra o bem" voltam muitas vezes em discursos políticos, as pessoas cansam-se e aguardam um líder capaz de demonstrar consenso.

Tabaré, qual Pepe ?

Crédit El Diario
Apesar do excelente nível de popularidade que Tabaré tinha no final do mandato presidencial vigente, a política de devolução parece difícil, simplesmente porque ele vai passar logo após a estrela nacional, regional e mundial da política, o famoso Pepe Mujica.

Primeiramente, a dificuldade é de passar depois de um personagem atípico e clivado. Quem não conhece o único presidente no mundo a ter recusado todos os privilégios concedidos a um presidente (casa, carro, salário)? Quem não conhece o único presidente no mundo a viver em uma fazenda isolada, longe de sua capital? Quem não conhece o único presidente no mundo que se veste humildemente - ou quase ridículo - mesmo em uma conferência das Nações Unidas? Tão respeitado e caçoado, este homem fascina ou indefere, mas é conhecido por (quase) todos. Com  o seu estilo rígido e clássico, a sua seriedade e impassibilidade, Tabaré corre o risco de ser entediante. Seria pelo fato de tentar imitar o antigo guerreiro Tupamaro que o novo presidente anunciou, durante a sua campanha, que iria morar em sua residência privada - em Montevidéu, de qualquer maneira - para entrar em seu "maior prazer com seus amigos ", ou seja, a pesca, e aproveitar ao máximo de sua família? Casado há 59 anos, Vázquez é pai de quatro filhos e avô de onze netos.

Mas acima de tudo, como vir depois de um homem com ambições políticas e sociais de vanguarda no continente - até mesmo no mundo inteiro - que conseguiu fazer as leis serem aceitas tais como a legalização do aborto, o casamento gay, e maconha? Especialmente porque o povo uruguaio tem em mente que a primeira barreira para a lei do aborto era o veto de Tabaré, ou que este ainda é contra a lei sobre a maconha e deseja revogá-la.

A questão é então de saber se, apesar das diretrizes políticas semelhantes e um lugar no mesmo partido, Tabaré seguirá suas antigas diretrizes ao ponto de marcar uma ruptura com a política de Pepe, ou se ele fará uma mudança em seu estilo para seguir a tradição estabelecida por aquele que será seu sucessor.