Texas: antigos detidos, futuros CEO?

Blanche Pautet, traduzido por Manon Millencourt
19 Juin 2015



No centro de detenção de Cleveland, no Texas, voluntários formam os detidos em empreendedorismo para facilitar a sua futura reinserção. Frente aos problemas da reincidência e dos custos de manutenção das prisões para o Estado, o Prison Entrepreneurship Program ofrece desde já há mais de dez anos uma solução duradoura e rentável.


Crédito Pat Sullivan
Crédito Pat Sullivan
Nos Estados Unidos, os antigos detidos são sujeitos à uma pressão social que, combinada a uma falta de enquadramento à sua saída da prisão, complica a sua reinserção. Eles lutam para encontrar emprego honesto e têm a tentação de retomar as suas antigas ocupações ilegais, tanto mais que muitas vezes são muito rentáveis. É precisamente o que interessou Catherine Rohr, a fundadora do PEP, o Prison Entrepreneurship Program. Segundo ela, as competências desenvolvidas por um traficante são as mesmas que as de um empresário. O PEP é uma formação equivalente a um ensino universitário e tem por objectivo valorizar o potencial dos detidos para que eles possam criar a sua própria empresa ao sair de prisão.

Quebrar o ciclo vicioso

Este programa muito seletivo começa por um convite à apresentação de candidaturas transmitido às prisões texanas, propondo aos detidos de participar ao Business Plan Competition que recompensa ao fim da formação o melhor projeto proposto pelos prisioneiros. Para ser seleccionado, é preciso ter sido condenado a uma pena de prisão inferior a quatro anos e não ser culpado de delinquência sexual. Os participantes são supervisionados por voluntários e profissionais do mundo dos negócios durante cinco meses, no final dos quais eles têm que apresentar o seu projeto em trinta minutos a um júri composto por empresários. O prêmio do melhor projeto é atribuído durante a cerimônia de entrega de diplomas. “Para a metade dos nossos estudantes, será a primeira vez que estarão vestidos de toga e capelo. E nós convidamos os membros das suas famílias para que se orgulhem deles, talvez pela primeira vez. Não é em Wall Street que podemos viver momentos como estes”, diz Catherine Rohr.

Crédito Amanda Yarger
Crédito Amanda Yarger
Richard Chavez Jr, um detido que participa ao programa, prevê criar em 2020 um centro de acolhimento e de conselho para os jovens. Diz: “Toda a minha vida fui egoísta. Agora, é a minha vez de dar”. Estima os custos do seu projeto em 50.000 dólares e está a procurar ativa de financiamentos. Além da contribuição à sociedade que representam os projetos dos detidos, também são para os prisioneiros a garantia de encontrar emprego à sua saída da prisão, já que serão empresários. Desde 2004, 165 diplomados do PEP abriram a sua empresa com êxito. O blog iwasinprison recolhe os seus testemunhos que insistem nas oportunidades que oferece o programa mas também nas alterações operadas nos prisioneiros a nível afectivo. “Graças ao PEP e aos Dez valores fundamentais, sou outro homem” diz José M. do ano 20 do programa.

Muito mais do que simples aulas de ciências económicas

Os Dez valores fundamentais são regras inerentes ao PEP que todos, detidos, professores e voluntários, têm de seguir. Fiabilidade, amor e segunda oportunidade, assim se define a ética do programa. Contudo, os detidos têm que se familiarizar com todo este novo vocabulário com intenção de integrar-se no mundo do trabalho. Assim as aulas são completadas por ateliês de sensibilização para o respeito - das mulheres nomeadamente - as boas maneiras e a expressão oral. Nos Estados Unidos, as prisões superpovoadas têm um ambiente de tensão e de insegurança. A formação do PEP é um lugar de benevolência que coloca todos os indivíduos em pé de igualdade. À sua chegada, detidos e voluntários são-lhe atribuídos uma alcunha voluntariamente enternecedora como “Sweet Sugar” ou “Chocolate Truffle” o que participa na criação de um ambiente familiar na austeridade de um centro de detenção.

É precisamente a família que está no centro das preocupações e das motivações dos detidos. Al Massey – ou “Granny Panties”, como o apelidam os seus colegas do nono ano do PEP – conta a sua história. Está grato pela segunda oportunidade que lhe foi concedido/a e conta aproveitar os ensinamentos do PEP para “estar à altura do [seu] pai”. Como ele, a maior parte dos detidos reconhecem ter demostrado egoísmo na sua vida passada e são agora inspirados pelo programa para dar um sentido mais espiritual à sua vida. A religião ocupa efectivamente um lugar importante no PEP, o que está ligado às parcerias com muitas igrejas que contribuem para financiar o programa.

Uma influência crescente

Desde a sua introdução no centro de detenção de Cleveland em 2004, o PEP também se enriqueceu com muitas parcerias com universidades que lhes proporcionam professores qualificados. A escola de comércio Hankamer da Baylor University participa ao ensino do empreendedorismo e considerou que o programa tinha exigências equivalente a um nível universitário. É por sua iniciativa que a cerimônia de entrega de diplomas foi instituída. Assim o diploma do PEP tem um valor real que lhe assegura cada vez mais visibilidade a nível nacional.

Crédito PEP
Crédito PEP
Dado que o financiamento da operação é assegurado por doações privadas e que não beneficia de nenhuma bolsa do Estado, é fundamental assegurar o futuro do PEP garantindo uma rede de doadores fiáveis. Em dezembro de 2004, a fundação Scurlock, um organismo privado de doações que subsidia projetos filantrópicos e voluntários, concedeu uma bolsa para um período de cinco anos para ajudar a expansão do PEP em todo o Estado do Texas. Graças a estas subvenções, o PEP já começou a implantar-se numa segunda prisão.

A iniciativa de responsabilizar os detidos para facilitar a sua reinserção é de eficácia comprovada na luta contra a reincidência. Gradualmente, parece que o sistema prisional se orienta para uma abordagem similar à das prisões abertas na Escandinávia que se concentram mais na reabilitação do prisioneiro para o reintegrar na sociedade do que na simples neutralização.

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